Vida que corre
Pacientes com câncer vivem novo drama em Pelotas
Impasse entre Ceron e Santa Casa de Pelotas deixa homens e mulheres sem medicamentos para o tratamento quimioterápico
De São Lourenço do Sul ele vem a cada 15 dias para Pelotas tratar de um tumor no fígado. É a segunda vez, no entanto, que faz uma viagem frustrada: a medicação da quimioterapia não está disponível. O caso de Gilberto da Silva Vieira, 55, não é isolado. A situação que envolve a Santa Casa de Misericórdia de Pelotas e o Centro de Radioterapia e Oncologia (Ceron) segue comprometendo a saúde de pacientes com câncer.
Na sala de espera do Ceron a semana teve clima de estresse e angústia. Gilberto, que operou um tumor no intestino e agora tenta combater o mesmo problema no fígado, preocupa-se com a qualidade do tratamento, novamente interrompido pela falta de remédios. A aparência fragilizada vem de um ano e um mês de luta contra o câncer, somada à expectativa por realizar a quimioterapia adequadamente. "Se eu fosse de me desesperar, já nem levantaria da cama", desabafou.
Eliane Hofh, 44, largou o emprego para se dedicar inteiramente à saúde da mãe, Vinilda, de 64 anos. Desde janeiro a idosa chega de São Lourenço do Sul para fazer quimioterapia. Ela luta contra um tumor no fígado. Entretanto, conforme a filha, sete sessões já foram interrompidas por falta de medicamentos no Ceron. "Já vimos que o tumor avançou por causa disso", lamentou a dona de casa.
Abaixo-assinado
Com a possibilidade de a Santa Casa assumir o serviço hoje prestado pelo Ceron - de fazer o repasse de remédios após ressarcimento do hospital -, a paciente Rosini Valente, de 54 anos, está coletando assinaturas de outros pacientes para ser entregue ao Ministério Público (MP). No documento ela critica a transferência do serviço. "Isso tem que parar! É a Santa Casa que não repassa os valores. Se eles tomarem o serviço como vai ser?", questionou.
Em agosto o Oncopel, que responde pelo Ceron, enviou ao hospital ofício no qual alega que por falta de pagamento os tratamentos quimioterápicos começariam a ser suspensos, pois faltam drogas e insumos. O Oncopel ainda solicitou que a Provedoria da instituição estabelecesse "medidas necessárias à transferência dos pacientes que realizam seus tratamentos sob a responsabilidade da Santa Casa para outro serviço, como forma de evitar maiores prejuízos à saúde destes".
A promotora Rosely de Azevedo Lopes, titular da 5ª Promotoria de Justiça Cível do MP, instaurou o procedimento contra a Santa Casa e o Ceron em 31 de março deste ano. Ela confirmou que o hospital não está repassando os valores ao Ceron. Sem abordar consequências e citar prazos, a promotora assegurou que tomaria novas providências legais caso o hospital continuasse omisso. A instituição, de acordo com o MP, tem até o final deste mês para se pronunciar. O provedor, Paulo Porto Gonçalves, declarou que a situação "está em entendimento entre as duas administrações (da Santa Casa e do Ceron)".
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